Em 1969 Paulinho da Viola lança uma música chamada: Sinal Fechado. É um diálogo contido, entre duas pessoas, que não se vêem há algum tempo, e que num momento se encontram na rua, dentro dos seus carros, ou até mesmo a pé, esperando o sinal abrir, e ali naquele pequeno espaço de tempo, foi possível um encontro. Poderia ter sido um encontro entre dois homens, duas mulheres, um homem e uma mulher, ex marido e ex mulher, a letra é totalmente aberta para a imaginação, e você pode se colocar nela, sem dúvida, mesmo depois de tantos anos. E esse ano em que foi feita essa canção, o Brasil estava em plena ditadura militar, onde a linguagem era completamente vigiada, reprimida e censurada, e o autor adapta o discurso, para que ele fosse emblema de uma época em que se tinha tanto a dizer e não se podia.
“Mudaram as estações, nada mudou”. E será que mudaram muitas coisas de lá para cá, em relação a possibilidade dos encontros reais, do discurso entre pessoas que se desejam, que se gostam? É comum se ouvir: “Nossa, estou correndo demais, estou sem tempo para nada”. A menos que estejam fazendo cooper, ou se desculpando de não querer o encontro, as pessoas estão correndo de quem e para onde? É um tempo que está sendo marcado cada vez mais pela individualização, é um outro tipo de ditadura subjetiva, de recolhimento. A internet, como um outro lugar possível de relacionamento, é também um espaço de ilusões, em que se tem a sensação de domínio, controle e de que tudo é possível a partir das relações estabelecidas ali. Dentro do meu quarto eu “ posso” conhecer o mundo. E assim o mundo se distancia cada vez mais. E o tempo, esse que nós gostamos tanto de culpar, é o grande vilão daquilo que poderia ser prazeroso: os encontros possíveis, o olhar, o diálogo. Um sinal aberto.
Vídeo da música - sinal fechado
http://www.youtube.com/watch?v=IEUPH1A7YkM
Nenhum comentário:
Postar um comentário