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A vida vale muito a pena, por uma série de coisas...
Goiânia, Goiás, Brazil
Psicóloga Clínica, formada pela PUC - Goiás. Formação em psicanálise pelo Instituto Sedes Sapientiae de São Paulo e Clínica Dimensão de Goiânia. Psicóloga - Comissão Executiva de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas do Estado de Goiás - Secretaria de Estado de Políticas para Mulheres e Promoção da Igualdade Racial.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

O pulso ainda pulsa,,,

Vou postar algo que Joselita Rodovalho escreveu.
Joselita é psicanalista, membro da Escola Lacaniana de Psicanálise de Brasília. Uma pessoa que gosto muito, nos ajudou muito aqui em Goiânia, com os nossos encontros, publicou recentemento o livro: O Atual Sempre - Um ensaio psicanalítico sobre o inabitável vazio da vida cotidiana.

"Felizmente o desejo humano existe única e exclusivamente para ser insatisfeito, senão a vida não pulsa. É deste pulsar que o sujeito da arte vem com suas ferramentas amenizar os apelos de um desejo insatisfeito, isto vale tanto para o sujeito que fabrica a trama de seus desejos pela arte, quanto para os sujeitos que consomem, cada qual a seu modo, esse produto. Portanto, o veio pulsional deve ser permanentemente restituído através dos veículos da linguagem, falada, escrita, representada etc. para que o sujeito possa dizer e redizer seu desejo insatisfeito. É disso que emana o poder de nossas enunciações privadas e obstruídas, mas o que ocorre no subsolo do desejo são as potentes cordilheiras incessantes da pulsão. Para onde dirigi-las e derramá-las, é uma questão de liberdade de escolha do sujeito". Joselita Rodovalho

Vargas Llosa quem diz:
"os homens não estão contentes com o seu destino, e quase todos - ricos ou pobres, geniais ou medíocres, célebres ou obscuros - gostariam de ter uma vida diferente da que vivem. Para aplacar - trapaceiramente - esse apetite surgiu a ficção. Ela é escrita e lida para que os seres humanos tenham as vidas que não se resignam a não ter. No embrião de todo romance ferve um inconformismo, pulsa um desejo insatisfeito."

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Um sonho que nunca morreu...


O sonho encheu a noite
Extravasou pro meu dia
Encheu minha vida
E é dele que eu vou viver
Porque sonho não morre.
Adélia Prado
Foto da Cidade de Goias - que amo tanto

SOBRE O TEMPO

Um belo texto...
RUBIA DELORENZO (1)

Vai chegar uma nova criança. Tudo gira, em vertigem.Desarruma-se algo. Perde-se o equilíbrio do hábito. A filha agora é mãe, a mãe é também avó, a caçula vira tia.Avós de sangue exultam. Cuidado! É preciso viver da fraternidade, o laço solidário capaz de abrir a roda para que caibam todos. E estabelecer o sentido estendido da partilha: celebrar com outros os frutos do tempo e a estação da vida e respeitar o que é legítimo da justa divisão nas diferenças.Esse é o primeiro tempo da novidade. Depois, é preciso admitir: temos muito trabalho com as sombras, com o que se deu no invisível.Haverá alegria para a filha mulher em seu novo estado de mãe? Guardará ela, com prazer, na memória de seu corpo o fluxo perene dessa ligação? De mãe para filha, perduraram as alianças urdidas nas trocas femininas? Na feitura da colcha de retalhos, com suas dobras tão simétricas e junções irregulares, com seus centros coloridos e com bordas mais tristonhas, os detalhes extravagantes, as dessemelhanças, como conviveram? O gosto jovem e o mais antigo, a sábia lição dos mais velhos e a vontade de inventar? Como tratar o relicário?Mundo novo admirável, estarei dentro, estarei fora? De repente o tempo dilatou-se. De novo, vi a vitalidade do século, a força combativa das gerações, a pulsação apaixonada, a família, a vida, o amor, em desordem. A idéia do tempo em sua dimensão desdobrada se impôs: tempo pródigo, doador, no avesso do tempo odiado, ladrão inclemente, usurpador. Na dádiva inesperada do tempo pressinto esse retorno ao íntimo, ao mais secreto: a queda no túnel de Alice, o tremor, estar caótica, pulsante, desordenada. Paul Klee, certa vez, diante da superfície branca da tela, inibido, ele próprio atingido pelo branco, confessa:"No entanto, permaneço calmo, porque me foi permitido, inicialmente, ser eu mesmo um caos. Essa é a mão materna"(2).A que foi mãe e que foi "trêmula e tímida" pode provar num movimento destemido, a presença do caos agora renovado pela aventura que é, novamente, o estranhamento da filha e o desamparo da criança.Persiste, nesta doação do tempo, a impressão de que se existe calma que apazigua o caos, é porque há algo que permanece.
Abril - 2009

(1) Rubia Maria Tavares Delorenzo é psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae.(2) Citação feita por J.-B. Pontalis, em Perder de Vista, no último artigo, que dá título ao livro.

Imagem: Paul Klee, mother and Chid, 1938.
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Desconstruções

Quando a gente conhece uma pessoa, construímos uma imagem dela. Esta imagem tem a ver com o que ela é de verdade, tem a ver com as nossas expectativas e tem muito a ver com o que ela "vende" de si mesma. É pelo resultado disso tudo que nos apaixonamos. Se esta pessoa for bem parecida com a imagem que projetou em nós, desfazer-se deste amor, mais tarde, não será tão penoso. Restará a saudade, talvez uma pequena mágoa, mas nada que resista por muito tempo. No final, sobreviverão as boas lembranças. Mas se esta pessoa "inventou" um personagem e você caiu na arapuca, aí, somado à dor da separação, virá um processo mais lento e sofrido: a de desconstrução daquela pessoa que você achou que era real.
Desconstruindo Flávia, desconstruindo Gilson, desconstruindo Marcelo. Milhares de pessoas estão vivendo seus dias aparentemente numa boa, mas por dentro estão desconstruindo ilusões, tudo porque se apaixonaram por uma fraude, não por alguém autêntico. Ok, é natural que, numa aproximação, a gente "venda" mais nossas qualidades que defeitos. Ninguém vai iniciar uma história dizendo: muito prazer, eu sou arrogante, preguiçoso e cleptomaníaco. Nada disso, é a hora de fazer charme. Mas isso é no começo. Uma vez o romance engatado, aí as defesas são postas de lado e a gente mostra quem realmente é, nossas gracinhas e nossas imperfeições. Isso se formos honestos. Os desonestos do amor são aqueles que fabricam idéias e atitudes, até que um dia cansam da brincadeira, deixam cair a máscara e o outro fica ali, atônito.
Quem se apaixonou por um falsário, tem que desconstruí-lo para se desapaixonar. É um sufoco. Exige que você reconheça que foi seduzido por uma fantasia, que você é capaz de se deixar confundir, que o seu desejo de amar é mais forte do que sua astúcia. Significa encarar que alguém por quem você dedicou um sentimento nobre e verdadeiro não chegou a existir, tudo não passou de uma representação – e olha, talvez até não tenha sido por mal, pode ser que esta pessoa nem conheça a si mesma, por isso ela se inventa.
A gente resiste muito a aceitar que alguém que amamos não é, e nem nunca foi, especial. Que sorte quando a gente sabe com quem está lidando: mesmo que venha a desamá-lo um dia, tudo o que foi construído se manterá de pé
Martha Medeiros