.
- Iza Junqueira Rezende
- Goiânia, Goiás, Brazil
- Psicóloga Clínica, formada pela PUC - Goiás. Formação em psicanálise pelo Instituto Sedes Sapientiae de São Paulo e Clínica Dimensão de Goiânia. Psicóloga - Comissão Executiva de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas do Estado de Goiás - Secretaria de Estado de Políticas para Mulheres e Promoção da Igualdade Racial.
sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
...
domingo, 29 de novembro de 2009
Fernando Pessoa - Adiamento
E assim será possível; mas hoje não...
Não, hoje nada; hoje não posso.
A persistência confusa da minha subjetividade objetiva,
O sono da minha vida real, intercalado,
O cansaço antecipado e infinito,
Um cansaço de mundos para apanhar um elétrico...
Esta espécie de alma...
Só depois de amanhã...
Hoje quero preparar-me,
Quero preparar-mne para pensar amanhã no dia seguinte...
Ele é que é decisivo.
Tenho já o plano traçado;
mas não, hoje não traço planos...
Amanhã é o dia dos planos.
Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo;
Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã...
Tenho vontade de chorar,
Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro...
Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo.
Só depois de amanhã...
Quando era criança o circo de domingo divertia-rne toda a semana.
Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância...
Depois de amanhã serei outro,
A minha vida triunfar-se-á,
Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático
Serão convocadas por um edital...
Mas por um edital de amanhã...
Hoje quero dormir, redigirei amanhã...
Por hoje, qual é o espetáculo que me repetiria a infância?
Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã,
Que depois de amanhã é que está bem o espetáculo...
Antes, não...
Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei.
Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser.
Só depois de amanhã...
Tenho sono como o frio de um cão vadio.
Tenho muito sono.
Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã...
Sim, talvez só depois de amanhã...
O porvir...Sim, o porvir...
Álvaro de Campos
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
AMOR E TEMPO
terça-feira, 20 de outubro de 2009
Afetos encapsulados - Iza Junqueira
Há dias venho pensando em colocar algum texto no blog sobre pessoas que sentem muita dificuldade em falar de si, de demonstrar qualquer tipo de afeto, seja ele qual for, ou mesmo desafetos. Sabe quando você cumprimenta uma pessoa com um aperto de mão e sente uma superficialidade no toque, não há uma firmeza no gesto, não há correspondência afetiva, é uma mão que não suporta o toque. Isso se estendendo ao olhar, porque além das mãos, do toque, o olhar inicia um discurso, ele te dá dicas de: para que olho eu estou olhando, que olhar é esse? Isso quando a pessoa permite esse contato. E assim o nosso corpo todo vai falando, vai ficando nu, mesmo com tantas barreiras, tantas defesas.
Essa leitura simbólica: facial, dos gestos, da sonoridade de cada pessoa, daquelas que conversam tão baixinho, para que não possam ser ouvidas, ou das que já querem ser ouvidas de qualquer jeito, tudo isso enriquece muito toda essa travessia nossa por essa vida. Estar atento ao nosso corpo, a nossa voz, aos nossos desejos, enfim, é um grande exercício e precioso também, mas que às vezes a gente faz “pouco caso”, não dá ouvido, àquilo que tanto quer falar. E fala, mesmo sem a gente perceber, e tem sempre alguém que vai olhar e vai ver.
Existe também uma dificuldade em receber um elogio, tem sempre um: “Que nada, são seus olhos”. Sim, são os seus olhos mesmo, mas são os meus é que não estão querendo ver. Pessoas que passaram por constrangimentos afetivos importantes, sentem muita dificuldade em corresponder a uma simples intenção de carinho, e sofrem muitas vezes com isso. E isso não tem nada a ver com ser muito falante e risonho não, tem pessoas mais quietas, que são extremamente generosas, que te olham de uma forma muito boa, que te conquistam pelo aperto de mão, por uma palavra que chega numa hora especial.
Essas pessoas que conseguiram entrar na esfera afetiva sem tantos conflitos, lidam melhor consigo, com o mundo e com o outro. Claro, nós estamos o tempo todo expostos, sujeitos a sentir medo, vontade de chorar, de ter alguém por perto, de se isolar, de não falar, ou querer falar demais, e é muito bom a gente deixar que os afetos brotem, que a gente possa revelá-los, mesmo que a foto não pareça tão boa assim, mas o ato de revelar, a si, já é uma grande descoberta.
Iza Junqueira
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
Desiderium Desideravi (ou, o desejo de desejar-te)
domingo, 30 de agosto de 2009
Quantas vezes eu assassinei o amor?
- Fabrício Carpinejar
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
Citação do dia
sábado, 22 de agosto de 2009
Poesia coreana
Não há som dentro do espelho
Não deve haver nenhum outro mundo tão silencioso assim.
Dentro do espelho também tenho orelhas
Duas pobres orelhas que não entendem o que eu digo.
O eu dentro do espelho é canhoto
Um canhoto que não responde ao meu aperto de mão, nao conhece o aperto de mãos
Eu não consigo tocar o eu do espelho por causa do espelho. Mas se não fosse pelo espelho como eu teria ao menos conhecido o eu do espelho?
Eu no momento não tenho espelho
mas dentro do espelho há sempre o eu do espelho
Não sei muito bem mas deve estar absorto em algum trabalho canhoto
O eu do espelho é bem o oposto de mim
mas também separece comigo
Ressinto- me mesmo de não poder me preocuparem examinar o eu do espelho
Yi Sang
Obrigada, Fátima Milnitzky, por essa descoberta...
um poeta inquietante!
Yi Sang (14 de setembro, 1910 - 17 de abril, 1937) é considerado um dos escritores mais inovadores da moderna literatura coreana. Crossing and blurring the boundaries between poetry, fiction and essay, his experiments in literary form and language, as well the psychological complexity of his inquiry into passion, eroticism and the indeterminate nature of self were unprecedented in Korean literary practices of his time. Passagem e esbatendo as fronteiras entre poesia, ficção e ensaio, suas experiências em forma literária e língua, bem como a complexidade psicológica da sua investigação sobre a paixão, o erotismo ea natureza indeterminada do self foram sem precedentes em coreano práticas literárias do seu tempo.
terça-feira, 18 de agosto de 2009
AMORTE
Depois de ler o texto de Roberto Mello, e vendo essa bela foto tirada pela Annie Leibovitz, eu fiquei pensando se resistir ao amor, não é ao mesmo tempo, uma fuga da morte, não somente da morte física, mas também de todos os nossos afetos e desafetos, dos amores desaparecidos e que nunca mais voltarão. Lembrei de uma música do Lulu Santos que diz assim: “Quando um certo alguém, desperta um sentimento, é melhor não resistir, e se entregar”. E resistir ao amor é causa de angústia, perder o encantamento pelas coisas mais simples da vida, como olhar um céu bem estrelado, trabalhar o dia todo com tesão, e chegar em casa da mesma forma e ver quem você ama, abrir a porta pra você, e te puxar para dentro. As pessoas perdem tempo demais se defendendo das suas fragilidades, como se a cura para a dor do amor, fosse endurecer, fechar a porta pro novo entrar. E no texto que se segue, o psicanalista Roberto Mello, cita um neologismo: AMORTE, constituído de amor e morte - não há um sem o outro.
Então o que nos resta diante dessa legitimidade? Bem, seria interessante que cada um pudesse pensar sobre isso...Fica o meu convite...
A MORTE
Por Roberto Mello
- A morte não há - disse um psicanalista, há tempos, no Rio de Janeiro, para uma platéia atônita durante um congresso. Efeito imediato: uma velhinha desmaiou. Foram ver, acudiram, e era uma psicanalista. Burburinho. Quem seria? Qual o nome? Idade? Um copo d'água. Levaram a pobre da velhinha para fora da sala, deitaram-na num sofá. Não, não era um divã. Abanaram, abanaram, trataram com carinho, e ela aos poucos se recuperou. Poder da palavra. Fiquei pensando, não era para subestimar. Poderia ser comigo, com qualquer um. Os gregos antigos sabiam que a palavra cura e mata. Os romanos sabiam que nas assembléias públicas, onde o discurso corria solto, havia sempre aqueles que tinham ataques de epilepsia, até por isso chamada de mal comicial. César era um deles.
Que se diga fica atrás do que se diz naquilo que se ouve, afirmava Lacan, no seu texto O aturdito, o dito que nos deixa aturdidos, a exigir dos analistas o talento da decifração. Posso dizer que você é uma mulher, mas isso não quer dizer que você verdadeiramente o seja. Perder-se no dilema do ser ou não ser é deixar de viver. Trocando o ser pelo haver, desde Freud, os psicanalistas sabem que a morte não há. Quer dizer: ninguém faz a experiência da própria morte. Não há uma entidade, A morte. Enigma. Para nós, a morte é sempre dos outros. O que não impede que num belo dia desapareçamos. Perecimento. Estive aqui, e não estou mais. Sumirei, mas não de todo. Há sempre algum resto. Nem que seja por matéria de fé. Lacan também dizia que a morte era uma pura questão de fé, e que, se não fosse assim, se não acreditássemos que um dia vamos morrer, o peso da existência arrastando-se pela eternidade seria absolutamente insuportável. Ninguém agüentaria um gozo eterno. Mas há os que crêem acreditar nisso, e morrem em vida, como os obsessivos, que não sabem se estão vivos ou mortos, se amam ou odeiam, paralisados pela dúvida improdutiva, alienados na espera, a espera da morte, geralmente de uma figura de autoridade, pai, patrão, mestre, para que então se sintam autorizados a viver. Na clínica, é dos obsessivos o questionamento radical da tragicidade da existência. Hamlet adia o crime por amor e nem sabe se ama. Romeu e Julieta, por amor, antecipam a morte. Sexo e morte estão interligados, nos diz a psicanálise. Dois adolescentes se encontram e se convidam para o coito: vamos brincar de morrer? Daí a legitimidade do neologismo amorte. Em 1998, em Salvador, na Bahia, psicanalistas trataram desse par ordenado, constituído de amor e morte - não há um sem o outro - num famoso congresso.
Em outro congresso, no Rio, discutiu-se sobre a possibilidade de a morte ser uma variedade de sexo. Por mais chocante, escandalosa que seja a aproximação, constatou-se que há um gozo em falar da morte. Se falar de amor é já fazer amor, como dizia Lacan, falar da morte deixa escapar um gozo inesperado, insuspeitado, mas que pode ser captado pela observação de uma crise maníaca que às vezes toma conta dos velórios. A literatura brasileira é rica de exemplos, entre eles algumas narrativas de Jorge Amado. É também da Bahia boa terra que nos vem uma estranha estatística de alta incidência de casos de linchamento, em que grupos se reúnem para fazer justiça com as próprias mãos, rompendo o pacto civilizatório - não matarás - e deixando-se fotografar com um semblante de gozo evidente. A conclusão óbvia é a de que existe um gozo de matar. Somos uns boçais, dizia Caetano numa canção que fustigou os podres poderes que não respeitam nem sinal de trânsito.Aliás, não nos damos conta de que a história de Édipo começou com um acidente de trânsito: Laio, pai de Édipo, fugia de um outro pai, que o perseguia porque não lhe dera autorização para que transasse com seu filho. Laio desrespeitou a lei que regulava a pederastia, velho costume grego. Na pressa, ao passar por uma encruzilhada, seu carro bateu no de Édipo. Discutiram, e Édipo, sem saber quem era seu desafeto, o matou. Fugindo do pai de um menino, Laio morreu nas mãos de seu menino, diz uma das muitas versões do mito tebano, mas nem por isso tomamos cuidado com as discussões no trânsito. Repetição sem fim?
Tesão de matar, tesão de morrer, amorte de mil faces se perpetua ao longo das eras. Sabedora disso, a Igreja católica, com sua sabedoria, instituiu a cerimônia da missa, em que, simbolicamente, o corpo e o sangue de Cristo são devorados. Aplaca-se, assim, uma fome insaciável. Por que se chocar com o mito freudiano do parricídio, o assassinato do pai primordial, do pai da horda, que monopolizava toda forma de gozo, todas as mulheres, crime que está na origem da lei e da civilização? De pai morto a pai simbólico, fundamento civilizatório. Civilização a exigir um novo pacto, um acordo para diminuir o ritmo da destruição da vida, pelo menos para diminuir o ritmo da morte da biodiversidade. Morte gulosa, voracíssima, que nos rouba a água potável, o ar limpo, a chuva criadeira, a terra generosa, e nos torna inimigos do fogo: cientistas apavorados nos advertem para as mudanças climáticas e o aumento crescente da temperatura. Aliança entre ecologia e religião, como propõem alguns cientistas. Será que desta vez vamos? Teocracia à vista. Estaremos advertidos pelo ceticismo do crítico literário Harold Bloom, que, no seu livro Jesus e Javé - Os nomes divinos, não consegue compreender, na sua condição de judeu, o fascínio de um Deus que comete suicídio? O fantasma da morte é imprescindível?
A velhinha que desmaiou - perdeu os sentidos - padeceu de uma frase que abalou seu sistema de crença: suas significações habituais entraram momentaneamente em suspensão, abriu-se uma ausência de sentido. Podemos especular se ela teria sido formada na escola que despreza a pulsão de morte anunciada por Freud em 1920, como uma resposta teórica - e prática - para os insucessos da clínica: por que os sujeitos querem e não querem tratar-se, ao mesmo tempo? O que faz com que subestimem o papel da palavra, recusando a saída possível pela simbolização, dado que o homem não pode não simbolizar? Os budistas nos falam da dor de existir. Que gozo é esse? Remédios são paliativos, ainda que bem-vindos.
Ainda que pretenda eximir-se da responsabilidade do seu sofrimento, o sujeito contemporâneo pode continuar a não simbolizar a morte, delegando a um outro, ao remédio, as decisões cruciais de sua vida? Haveria uma ética para a subjetivação da morte?
Os analistas estariam à altura dessa ética? Não sei de muitos exemplos. Me lembro de um. O ano de 2005 me foi particularmente cruel: desapareceram minha mãe e meu analista. Horus Vital Brazil, que esteve conosco em Goiânia, para algumas jornadas de trabalho, mostrou, pouco antes de morrer, uma serenidade comparável a de Sócrates. Viveu com alegria seus últimos momentos, escrevendo, dando cursos, consolando amigos, parentes, analisantes, aceitando com resignação - porque bem vivera e bem dissera a vida - o seu fim.
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
O pulso ainda pulsa,,,
"os homens não estão contentes com o seu destino, e quase todos - ricos ou pobres, geniais ou medíocres, célebres ou obscuros - gostariam de ter uma vida diferente da que vivem. Para aplacar - trapaceiramente - esse apetite surgiu a ficção. Ela é escrita e lida para que os seres humanos tenham as vidas que não se resignam a não ter. No embrião de todo romance ferve um inconformismo, pulsa um desejo insatisfeito."
terça-feira, 11 de agosto de 2009
Um sonho que nunca morreu...
Extravasou pro meu dia
Encheu minha vida
E é dele que eu vou viver
Porque sonho não morre.
Adélia Prado
SOBRE O TEMPO
RUBIA DELORENZO (1)
Vai chegar uma nova criança. Tudo gira, em vertigem.Desarruma-se algo. Perde-se o equilíbrio do hábito. A filha agora é mãe, a mãe é também avó, a caçula vira tia.Avós de sangue exultam. Cuidado! É preciso viver da fraternidade, o laço solidário capaz de abrir a roda para que caibam todos. E estabelecer o sentido estendido da partilha: celebrar com outros os frutos do tempo e a estação da vida e respeitar o que é legítimo da justa divisão nas diferenças.Esse é o primeiro tempo da novidade. Depois, é preciso admitir: temos muito trabalho com as sombras, com o que se deu no invisível.Haverá alegria para a filha mulher em seu novo estado de mãe? Guardará ela, com prazer, na memória de seu corpo o fluxo perene dessa ligação? De mãe para filha, perduraram as alianças urdidas nas trocas femininas? Na feitura da colcha de retalhos, com suas dobras tão simétricas e junções irregulares, com seus centros coloridos e com bordas mais tristonhas, os detalhes extravagantes, as dessemelhanças, como conviveram? O gosto jovem e o mais antigo, a sábia lição dos mais velhos e a vontade de inventar? Como tratar o relicário?Mundo novo admirável, estarei dentro, estarei fora? De repente o tempo dilatou-se. De novo, vi a vitalidade do século, a força combativa das gerações, a pulsação apaixonada, a família, a vida, o amor, em desordem. A idéia do tempo em sua dimensão desdobrada se impôs: tempo pródigo, doador, no avesso do tempo odiado, ladrão inclemente, usurpador. Na dádiva inesperada do tempo pressinto esse retorno ao íntimo, ao mais secreto: a queda no túnel de Alice, o tremor, estar caótica, pulsante, desordenada. Paul Klee, certa vez, diante da superfície branca da tela, inibido, ele próprio atingido pelo branco, confessa:"No entanto, permaneço calmo, porque me foi permitido, inicialmente, ser eu mesmo um caos. Essa é a mão materna"(2).A que foi mãe e que foi "trêmula e tímida" pode provar num movimento destemido, a presença do caos agora renovado pela aventura que é, novamente, o estranhamento da filha e o desamparo da criança.Persiste, nesta doação do tempo, a impressão de que se existe calma que apazigua o caos, é porque há algo que permanece.
Abril - 2009
(1) Rubia Maria Tavares Delorenzo é psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae.(2) Citação feita por J.-B. Pontalis, em Perder de Vista, no último artigo, que dá título ao livro.
Imagem: Paul Klee, mother and Chid, 1938.
voltar ao menu
Desconstruções
Desconstruindo Flávia, desconstruindo Gilson, desconstruindo Marcelo. Milhares de pessoas estão vivendo seus dias aparentemente numa boa, mas por dentro estão desconstruindo ilusões, tudo porque se apaixonaram por uma fraude, não por alguém autêntico. Ok, é natural que, numa aproximação, a gente "venda" mais nossas qualidades que defeitos. Ninguém vai iniciar uma história dizendo: muito prazer, eu sou arrogante, preguiçoso e cleptomaníaco. Nada disso, é a hora de fazer charme. Mas isso é no começo. Uma vez o romance engatado, aí as defesas são postas de lado e a gente mostra quem realmente é, nossas gracinhas e nossas imperfeições. Isso se formos honestos. Os desonestos do amor são aqueles que fabricam idéias e atitudes, até que um dia cansam da brincadeira, deixam cair a máscara e o outro fica ali, atônito.
Quem se apaixonou por um falsário, tem que desconstruí-lo para se desapaixonar. É um sufoco. Exige que você reconheça que foi seduzido por uma fantasia, que você é capaz de se deixar confundir, que o seu desejo de amar é mais forte do que sua astúcia. Significa encarar que alguém por quem você dedicou um sentimento nobre e verdadeiro não chegou a existir, tudo não passou de uma representação – e olha, talvez até não tenha sido por mal, pode ser que esta pessoa nem conheça a si mesma, por isso ela se inventa.
A gente resiste muito a aceitar que alguém que amamos não é, e nem nunca foi, especial. Que sorte quando a gente sabe com quem está lidando: mesmo que venha a desamá-lo um dia, tudo o que foi construído se manterá de pé
Martha Medeiros
sábado, 8 de agosto de 2009
Sob o Sol
quinta-feira, 6 de agosto de 2009
Duas frases para hoje...
sábado, 1 de agosto de 2009
Psicanálise funciona, diz estudo médico (Folha de S. Paulo)
Pesquisas recentes em psicanálise
Folha de São Paulo -05/10/2008 - A psicanálise intensiva, a "cura pela fala" enraizada nas idéias de Freud, pode estar sob ameaça numa era de tratamentos farmacológicos e pressão por eficácia financeira da assistência médica. Mas cientistas estão relatando agora que ela pode ser eficiente contra alguns problemas mentais crônicos, incluindo a ansiedade e a personalidade limítrofe.
Em uma revisão de 23 estudos sobre esse tipo de tratamento envolvendo 1.053 pacientes, os pesquisadores concluíram que essa forma de terapia, mais intensiva, aliviou sintomas dos problemas com muito mais eficácia do que algumas terapias de curto prazo.
Em estudo na revista "Jama", da Associação Médica Americana, os autores emitem um alerta para que mais terapias "psicodinâmicas", como as definem, sejam testadas antes que acabem descartadas como meras curiosidades históricas.
A revisão no "Jama" foi a primeira do tipo para psicanálise a aparecer numa revista técnica médica de alto impacto, e os estudos nos quais o novo artigo se baseia não são muito conhecidos dos médicos em geral.
Por muitos anos, nos EUA, esse campo tem resistido ao escrutínio científico, sob alegação de que o processo de tratamento é altamente individualizado e, portanto, não se presta a esse tipo de estudo. O tratamento se baseia na idéia de Freud segundo a qual sintomas estão enraizados em conflitos psicológicos subjacentes, que podem ser descobertos por meio do relacionamento próximo paciente-terapeuta.
Atenção intensa
Especialistas alertam que a evidência citada na nova pesquisa ainda é muito escassa para uma alegação clara de que a terapia psicanalítica é superior a outros tipos de tratamento, como a terapia cognitiva comportamental, de curto prazo.
"Mas essa revisão certamente parece contradizer a noção de que terapias cognitivas ou outras de curto prazo são melhores que quaisquer outras", diz Bruce Wampold, psicólogo da Universidade de Wisconsin. "Quando bem feita, a terapia psicodinâmica parece ser tão eficaz quanto qualquer outra."
Os autores da revisão -Falk Leichsenring, da Universidade de Giessen, e Sven Rabung do Centro Médico Universitário de Hamburg-Eppendorf, ambos na Alemanha- consideraram só estudos nos quais a terapia analisada tinha pelo menos duas sessões por semana e duração maior que um ano.
Os cientistas examinaram os estudos que seguiram pacientes com diversos problemas mentais, dentre os quais depressão severa, anorexia nervosa e transtorno da personalidade limítrofe -caracterizado por medo de abandono e surtos de desespero e carência.
A terapia psicodinâmica "mostrou efeitos de tratamento significativos, grandes e estáveis, que até aumentavam significativamente entre o fim do tratamento e a avaliação", disse Leichsenring.
A revisão, contudo, não encontrou correlação entre a melhora dos pacientes e a duração do tratamento. Mas eles de fato melhoraram, e os psiquiatras afirmaram que ficou claro que pacientes com problemas emocionais graves e crônicos se beneficiavam da atenção próxima, freqüente e perseverante dos psicanalistas.
"Se definirmos a personalidade limítrofe de modo amplo, como uma incapacidade de controlar emoções, ela se aplica a muitas pessoas que aparecem nas clínicas e são diagnosticadas com depressão, bipolaridade pediátrica ou vício em drogas", diz Andrew Gerber, psiquiatra da Universidade Columbia, Para alguns pacientes, diz, "esse estudo sugere que a terapia de longo prazo é necessária para a melhora durar".
Freud no "Jama"
Alguns psicanalistas ficaram mais surpresos com a publicação que veiculou o estudo do que com o resultado do trabalho. Artigos de revisão no "Jama" e em outras revistas médicas costumam analisar centenas de estudos, enquanto a revisão de agora tinha só 23. O trabalho de Leichsenring é encorajador, dizem, mas é também sinal de que muitos outros estudos precisam ser feitos.
Barbara Milrod, psiquiatra do Weill Cornell Medical College, que também adota terapia psicodinâmica, afirma que mais pesquisas são cruciais para a sobrevivência dessa linha como um tratamento válido.
"Vamos cair na real", diz. "Os grandes centros médicos estão encerrando os programas de treinamento psicodinâmicos porque não há uma base de evidências adequada."
Autor: Desconhecido
Fonte: Jornal Folha de SP
terça-feira, 28 de julho de 2009
Minhas Digressões sobre o Tempo...
TEMPERANÇA
A espera, tem se tornado parte contínua na minha vida.
Um ritual sagrado.
Existe espera no Tempo?
ou tudo que imaginamos ser espera
é mera viagem ...
Tempo!
Tão grandioso, tão pequeno , tão (só)
Tempo é gente? fantasma? solidão?
Espera-se do Tempo: o sol, a chuva, as flores, o amor, o filho, o medo, a morte, além...
Personificamos o Tempo quando perguntamos: como está o Tempo hoje?
Mas não há fala no Tempo.
Tempo é aquilo que nos falta responder
Tempo é furo
é divã suspenso no ar.
Iza junqueira
gyn 06/01/2001.segunda-feira, 27 de julho de 2009
Diálogos de Amor
Trecho do livro: Diálogos de amor de Leão Hebreu
Sofia: Como podes dizer que o verdadeiro amor nasce da razão? Pois sempre ouvi dizer que o amor perfeito não pode ser governando nem limitado por nenhuma razão, e por isso lhe chamam “desenfreado”, porque não se deixa domar pelo freio da razão nem governar por ela.
Fílon: É verdade o que ouviste, mas se eu disse que tal amor nasce da razão não te disse que se limita e guia por esta. Digo-te, pelo contrário, depois de engendrado pela razão cognoscitiva, logo após o nascimento já se não deixa mandar nem governar pela razão da qual foi gerado, mas recalcitra contra a mãe e torna-se, como disseste, tão desenfreado que redunda em prejuízo e dano do amante, porque aquele que tem sincero amor a si próprio se desama.
Grata!
Sobre o autor:Filho de Isaac Abravanel, nasceu em Lisboa, em 1465, tendo vivido também em Espanha e em Itália. Supõe-se que terá morrido em 1534.
Bibliografia
Giuseppe Saitta «La filosofia di Leone Hebreo» in Filosofia Italiana e Humanismo, Veneza, 1928;José Narciso Rodrigues, «A filosofia de Leão Hebreu. O amor e a beleza» in Revista Portuguesa de Filosofia, t. XV, fasc. 4, Braga, 1959, pp. 349-386;José Barata Moura «Amizade humana e amor divino em Leão Hebreu», in Didaskalia, vol. II, fasc. I, Lisboa, 1972, pp. 155-157;Id., «Leão Hebreu e o sentido do amor universal» in Didaskalia,, vol. II, fasc. II, Lisboa, 1972, pp. 375-404; Joaquim de Carvalho, Leão Hebreu Filósofo, in Obras Completas de Joaquim de Carvalho, vol. I, Lisboa, 1978;J. Pinharanda Gomes, A filosofia hebraico-portuguesa, Porto, 1981.
domingo, 26 de julho de 2009
Um Hai Kai para Freud
QUE SEUS SONHOS EXPÕE
QUANDO ABRE A VIDRAÇA?
Rogério Viana
Hoje assisti ao programa, De lá pra cá, apresentado pelo jornalista Ancelmo Gois, em homenagem a Paulo Leminski. Contando sua trajetória, um jovem com 18 anos, que já nasceu concreto, como ele mesmo dizia, se referindo aos já consolidados poetas concretos, citando Augusto de Campos, Haroldo de Campos e outros...Desde a adolescência eu adorava o Leminski e em especial uma de suas melhores expressões: o Hai Kai.
Quem desejar conhecer mais sobre o Hai Kai, acesse:
http://www.seabra.com/haikai/
quarta-feira, 22 de julho de 2009
Sobre a Transitoriedade - Iza Junqueira
Rodrigo, um caro amigo, postou um comentário sobre o que eu escrevi sobre "o luto por pessoas que não morreram", e ele fala sobre o transitório, e eu tenho vivido muito isso, aliás a gente vive todos os segundos isso, e essas nossas conversas sobre todas as coisas que vivemos e que se foram, mas que ficaram em nós, estão me fazendo muito bem...As coisas ficam mais leves quando a gente percebe o significado e aceita, na medida do possível, o que vem e o que vai...
Vou deixar um link aqui para quem quiser ler um pouco mais sobre Sobre a transitoriedade: o objeto e o tempo. Por Simone Souto.
Eu gostei muito...
http://www.ebp.org.br/biblioteca/pdf_biblioteca/Simone_Souto_Sobre_a_transitoriedade_o_objeto_e_o_tempo.pdf
terça-feira, 21 de julho de 2009
O luto por pessoas que não morreram
"Toda dor pode ser suportada se sobre ela puder ser contada uma história". Hannah Arendt
A primeira vez que assisti "Meu primeiro amor", eu chorei. E as outras 10 vezes, também. Chorei de saudade de muitas pessoas, chorei pelo amor que se foi, enfim, é um filme entre duas crianças que se enamoram, e de repente o menininho morre com uma picada de abelha, e ela então, vive seu primeiro grande luto. Mas tem gente que desaparece em vida, numa ruptura brusca, sem tempo pra gente velar, olhar mais uma vez, mandar algumas flores, recitar um poema, colocar uma música, se despedir, dar o último abraço, mandar ir pro inferno! fazer todos os rituais que nos cabe. Enterrar. E o enterro pode demorar muito mais tempo para acontecer do que a gente possa imaginar. As pessoas costumam dizer, que no máximo dois anos, podemos nos curar de uma paixão, como se os nossos desejos obedecessem ao Tempo. As vezes quatro anos sem a pessoa amada, não pode ser mensurado com o passar dos dias, mas apenas pelo sentimento da saudade, da ausência. Tem pessoas que conseguem resolver esses desaparecimentos com mais facilidade, outras, ficam mais tempo nesse luto em vida, como costumo dizer. Mas um dia passa, sem a gente menos esperar, e se dar conta. E nós continuamos essa travessia, desejando, querendo ser amada, mesmo que tenhamos mais uma vez, passarmos pelo doloroso luto, em vida.
domingo, 28 de junho de 2009
Mulher é linguagem
Toda mulher é uma viagem
ao desconhecido. Igual poesia
avessa ao verso e à trucagem,
mulher é iniciação do dia,
De nada adiantam mapas, guias,
cenas ensaiadas ou pilhagens.
Controverso ser, mulher é via
de mão única, abismo, moagem.
É também risco máximo, magia,
caminho íngreme na paisagem.
Simplificando: mulher é linguagem,
palavra nova, imagem que anistia
o ser, o vir-a-ser e outras bobagens.
Rubens Jardim
.http://www.cronopios.com.br/site/poesia.asp?id=3912asp?id=3912
quinta-feira, 18 de junho de 2009
Sinais Abertos - por Iza Junqueira
Em 1969 Paulinho da Viola lança uma música chamada: Sinal Fechado. É um diálogo contido, entre duas pessoas, que não se vêem há algum tempo, e que num momento se encontram na rua, dentro dos seus carros, ou até mesmo a pé, esperando o sinal abrir, e ali naquele pequeno espaço de tempo, foi possível um encontro. Poderia ter sido um encontro entre dois homens, duas mulheres, um homem e uma mulher, ex marido e ex mulher, a letra é totalmente aberta para a imaginação, e você pode se colocar nela, sem dúvida, mesmo depois de tantos anos. E esse ano em que foi feita essa canção, o Brasil estava em plena ditadura militar, onde a linguagem era completamente vigiada, reprimida e censurada, e o autor adapta o discurso, para que ele fosse emblema de uma época em que se tinha tanto a dizer e não se podia.
“Mudaram as estações, nada mudou”. E será que mudaram muitas coisas de lá para cá, em relação a possibilidade dos encontros reais, do discurso entre pessoas que se desejam, que se gostam? É comum se ouvir: “Nossa, estou correndo demais, estou sem tempo para nada”. A menos que estejam fazendo cooper, ou se desculpando de não querer o encontro, as pessoas estão correndo de quem e para onde? É um tempo que está sendo marcado cada vez mais pela individualização, é um outro tipo de ditadura subjetiva, de recolhimento. A internet, como um outro lugar possível de relacionamento, é também um espaço de ilusões, em que se tem a sensação de domínio, controle e de que tudo é possível a partir das relações estabelecidas ali. Dentro do meu quarto eu “ posso” conhecer o mundo. E assim o mundo se distancia cada vez mais. E o tempo, esse que nós gostamos tanto de culpar, é o grande vilão daquilo que poderia ser prazeroso: os encontros possíveis, o olhar, o diálogo. Um sinal aberto.
Vídeo da música - sinal fechado
http://www.youtube.com/watch?v=IEUPH1A7YkM
domingo, 24 de maio de 2009
Trajetória...
Há dois anos e meio atrás iniciou-se um curso de formação permanente em psicanálise, organizado pelo Instituto Sedes Sapientiae de São Paulo, juntamente com a Clínica Dimensão de Goiânia. Algumas entrevistas foram feitas e então começamos uma história juntos. Algumas pessoas não foram selecionadas, poucas desistiram por motivos particulares e" nós aí na foto" continuamos!(apenas Luzia não estava nesse dia) Primeiro módulo tivemos a Psicanalista Cleide Monteiro, sempre muito motivada a nos apresentar sua experiência clínica-teórica, muito dedicada, e foi um módulo bastante produtivo. Depois veio Paula Francisquetti, psicanalista, e ela veio com uma proposta diferente, num ritmo mais silencioso, onde tinha espaço de sobra para grandes produções. E ano passado começamos outro módulo com Leonor Rufino, psicanalista também. O que falar da Leonor? Muitas coisas boas! mas o bom mesmo é ouvir ela falar, e ela fala! fala com gosto, como dizemos aqui
Iza Junqueira
domingo, 29 de março de 2009
Frase do dia...
'Nunca estamos tão mal protegidos contra o sofrimento como quando amamos, nunca estamos tão irremediavelmente infelizes como quando perdemos a pessoa amada ou seu amor'(Freud). Acho essas frases notáveis porque elas dizem claramente o paradoxo incontornável do amor: mesmo sendo uma condição constitutiva da natureza humana, o amor é sempre a premissa insuperável dos nossos sofrimentos. Quanto mais se ama, mais se sofre".
Juan-David Nasio, psicanalista e psiquiatra argentino