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A vida vale muito a pena, por uma série de coisas...
Goiânia, Goiás, Brazil
Psicóloga Clínica, formada pela PUC - Goiás. Formação em psicanálise pelo Instituto Sedes Sapientiae de São Paulo e Clínica Dimensão de Goiânia. Psicóloga - Comissão Executiva de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas do Estado de Goiás - Secretaria de Estado de Políticas para Mulheres e Promoção da Igualdade Racial.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Meninas Carvoeiro - Trabalho escravo infantil


Relatos de pessoas vítimas do Tráfico de Pessoas.


Comissão Executiva de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas do Estado de Goiás

Atividades

2103



Tráfico de Pessoas em Goiás e o Comitê Interinstitucional de Enfrentamento ao Tráficode Pessoas através do Decreto 7.624, de 21 de maio de 2012. A partir dainstitucionalização o Comitê passou a funcionar e se reunir mensalmente com osmembros titulares pelos órgãos previstos no decreto governamental. Atualmente oComitê elabora uma minuta da política e do plano estadual de enfrentamento ao Tráficode Pessoas que deverá ser publicada em breve pelo Governo de Goiás.A Comissão Executiva de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas do Estado deGoiás, da Secretaria de Estado de Políticas para as Mulheres e Promoção da IgualdadeRacial, vem desenvolvendo um trabalho amplo nesse ano de 2013. Além dosSeminários, atendimentos às vítimas e produção de material gráfico para campanhas deprevenção, a Comissão mantém uma estreita relação com as universidades, campos deestágio e diálogo constante com o Comitê de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas.Esse Relatório contém todas as atividades realizadas pela Comissão, com fotosdos eventos e algumas outras produções que serão lançadas em breve, tais como: Cartãode Sinalização, Folders, Banners e Manual de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas.

O que é a Campanha Coração Azul?

Uma iniciativa de conscientização para lutar contra o tráfico de pessoas e seu impacto na sociedade.
A Campanha Coração Azul busca encorajar a participação em massa e servir de inspiração para medidas que ayudem a acabar com o tráfico de pessoas.
A Campanha também permite que todas as pessoas demonstrem sua solidariedade com as vítimas do tráfico de pessoas,  usando o Coração Azul.

segunda-feira, 19 de julho de 2010




Ando no escuro para tocar onde não devo.

Amor é tocar onde não se deve.

E curar sem entender a doença.

Fabrício Carpinejar

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Clarice


Ah, meu amor, não tenhas medo da carência:
Ela é o nosso destino maior.
O amor é tão mais fatal

do que eu havia pensado,
O amor é tão inerente quanto aprópria carência,
E nós somos garantidos por uma necessidade

que se renovará continuamente.
O amor já está, está sempre.
Falta apenas o golpe da graça -
que se chama paixão."

Clarice Lispector

domingo, 9 de maio de 2010

A Propaganda da Depressão - Iza Junqueira



A depressão parece ser hoje, um mal necessário, pelo menos para a indústria medicamentosa e pelos profissionais, que ainda acreditam que é possível medicar o afeto, a tristeza, o sono, os amores perdidos, e dão essa falsa esperança aos pacientes, que por alguns meses se sentem bem, mas que em algum momento terão que lidar com essas questões de uma outra forma. E medicam tanto que o sujeito não tem ânimo para sair de casa, cuidar de si, procurar um novo amor, ir ao analista. Mas os índices de suicídio, principalmente entre adolescentes, é preocupante.
A sensação de melhora rápida dos conflitos, encoraja esse adolescente e em vez de resolver esses conflitos, ele se mata. Os consultórios psiquiátricos estão cheios, pessoas procurando um alívio imediato para suas dores, para suas “esquisitices”, e tendo a falsa impressão de que é preciso ser forte o tempo todo, dar conta de tudo, resolver tudo, não chorar, não sofrer, e a fragilidade faz parte de nós! e é preciso entrar em contato com essas fragilidades para que a gente possa se reconstituir enquanto sujeitos, saber falar da gente, saber lidar com a gente. Essa tentativa de transformar o sofrimento em patologia é o grande marketing da indústria psicofarmacológica, que vende suas tarjas pretas e cega o sujeito, que fica impedido de reconciliar com as suas questões afetivas. A idéia do normal e do patológico precisa ser investigado melhor.
A psicanálise propõe que o sujeito deprimido volte a fantasiar, fazer uma travessia que facilite o acesso ao imaginário, encorajar a pessoa para que ela possa falar das suas dores, expô-las em vez de encobri-las. Todo mundo tem algo a dizer, mesmo que por algum tempo, alguma coisa lhe fuja à lembrança.
por Iza Junqueira Rezende

Amor à segunda vista. Iza Junqueira


Qualquer coisa que se faça, que se ame, que se deseja, infere algum tipo de ideal. Os nossos inventimentos, desde o mais simples, até os mais complexos, estão imbuídos de algum nível de idealização. Esses transbordamentos de paixão, que experimentamos quando nos encantamos por alguém, à primeira vista, servem de emblema para que possamos pensar nossas construções afetivas.Nós, que já vivemos uma bela história de amor, sabemos que: Só é amor se for à segunda vista, terceira, quarta e por aí vai. Não que, à primeira vista, no primeiro olhar, não exista o desejo de amar, mas por mais desejo que se sinta, o que está sendo posto, nesse primeiro foco, em relação ao outro, são as nossas idealizações primeiras, resquícios dos nosso primeiros olhares amorosos. À primeira vista, os diálogos são bem conhecidos: " Você tem tudo a ver comigo""Agora encontrei o amor da minha vida""Não consigo viver sem você"Pode ser tudo isso? acredito que sim, mas não à primeira vista.Há de se percorrer um caminho com essa pessoa, querida, desejada, amada, até que se consiga, aos poucos, ir tirando as roupas do manequim que nós mesmo montamos, conforme aquilo que idealizamos. Resta saber, quem é o outro, quem desejamos amar, quais são os desejos dessa pessoa, além dos meus. Bingo! Se nós abrirmos mão de tantas idealizações, durante essa história amorosa, teremos mais chance de continuarmos com o nosso suposto-amor, como costumo dizer.Acontece , que há pessoas, que nao conseguem sair desse lugar ideal. Não há o desejo de conquista, e sim, de posse, de "ter" o outro, à sua maneira. A posse está sempre mais próxima da perda, já a conquista, possibilita um encontro mais feliz. Na conquista, até a distância nos aproxima. O desejo está nos olhos, não há outra via de se chegar a não ser olho no olho, pele, toque, voz, cotidiano, ouvir. E não é um qualquer ouvir.É preciso ouvir o som do azul.
Salve!Iza Junqueira

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Pirenópolis e seus talentos

Esse é um belo texto feito por Francisco Figueiredo, um grande conhecedor da arte, com uma sensibilidade única, atento a história dos nossos patrimônios...Ele coordena o Museu de Arte Sacra de Pirenópolis. Vale conhecer...
Aqui agora


O Rio das Almas escorre da serra cortando a cidade de Pirenópolis. Outrora suas águas transparentes estavam carregadas de ouro. Nossos Patriarcas vieram de Portugal e se instalaram aqui com seus escravos, à procura de riqueza, dando origem às Minas de Nossa Senhora do Rosário.
Aqui foi semeado um catolicismo barroco e laico, com suas irmandades comandando a construção de igrejas para seus festejos, nos quais o sagrado e o profano não se estranhavam, reinterpretando tradições trazidas do outro lado do mundo.
Mas um dia o rio se cansou e não mais ofereceu ouro. E como é rio “das Almas” nas suas correntezas deve ter levado a alma de muitos: o entendimento das tradições, o valor do bem comum... Perdemos duas das cinco principais igrejas; sofremos roubos e comércio de arte sacra. A igreja Matriz, depois de longo restauro, padeceu um grande incêndio...
Bem próximo desse rio agora está o Museu de Arte Sacra, na antiga Igreja do Carmo, recentemente inaugurado. Dirijo esse museu. Trabalho difícil, mas prazeroso: cuidar da memória, preservar, juntar peças para recompor uma história e torná-la mais disponível a todos.
O rio continua seu percurso, com suas cachoeiras e um leito prazeroso que lava o corpo de nossas almas. E segue à procura de outro maior do que a si mesmo e é recebido pelo grandioso Tocantins. Tomara os incessantes esforços dos organismos governamentais e um maior interesse da sociedade transformem toda ação em favor da cultura num fecundo e caudaloso rio no qual todos possam nutrir seu desejo de conhecimento e amor a uma viva e inteligível tradição.



Francisco Figueiredo de Moraes

quinta-feira, 1 de abril de 2010

A passividade - Iza Junqueira


A passividade, além de uma forma mortífera de gozo com a dor, é uma posição fatalista que impede a superação do trauma. Pode parecer paradoxal, mas uma sociedade narcisista tende a favorecer o culto a vítima. A vítima esta sempre preservada da responsabilidade ou da participação em relação as causas do seu sofrimento. Do ponto de vista do vitimismo, a cura das dores da vida, assim como da depressão, consistiria, sempre, primeiro, na reparação que deveria vir do outro, e em segundo lugar, na eliminação de todo o traço de má notícia que advenha do inconsiente. A vítima se sente a salva do conflito e da divisão subjetiva, assim como da indagação pelo seu desejo. Ninguém mais íntegro do que uma vítima, do ponto de vista do narcisismo do eu.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Amigo Confesso - Iza Junqueira


Seria histeria demais da nossa parte, dizer que não precisamos de ninguém. De que, somos suficientemente auto-sustentáveis, programados a não sentir falta do outro, a não ter vontade de ouvir um barulhinho de celular na hora mais inesperada, e naquele momento de estado blasé, onde você diz: pouco me importa se alguém não me ligar, não preciso de ninguém. Negaríamos a nossa condição, de desamparo.

As amizades, ou as supostas amizades, principalmente as mais duvidosas, são cheias de contornos e adereços que, ao mesmo tempo, que encantam, desaparecem feito estrelas cadentes. Não parece que podemos pegar as estrelas durante o seu percurso? Não é isso que as crianças fazem ao ver a estrela se deslocar? E os amigos, podem ser essas estrelas, esses milhões de estrelas vulneráveis e que de longe parecem geometricamente perfeitas, com um sorrisinho no meio.


Amizade é uma viagem no espaço, são satélites que deslizam e encantam, mas ao mesmo tempo assustam pela sua imprevisibilidade. São espaços que tem uma organização, suas pautas, seus interesses (ou despojados deles), um júri que exclui e inclui, com razão ou sem, perante suas próprias leis. As amizades, sim, são regidas por leis, às vezes caóticas demais, desumanas, injustas, dentro do que se convencionou chamar: amizade.

Essa rede de pessoas que se encontram, nem sempre no encontro, no seu verdadeiro sentido, mobiliza uma série de afetos, de emoções, de momentos que "idealisticamente", encantam, e a gente se doa, se dói. Você abre seus espaços, seus laços, e deixa tudo entrar, deixa tudo ser, às vezes não-sendo.

Amizade é também o não-ser. Mas é ser tudo também, mesmo que no final da festa, todas as taças estejam quebradas, e todas as palavras e sorrisos e gestos, sejam restos de bebidas, restos de champagne, e todas as velas já estejam apagadas. Não há mais fogo e nem fumaça. Não há mais as mesmas pessoas da festa, era só uma festa, e tinha pessoas.

A amizade do ter, mais do que a amizade do ser: Ter um amigo, e ser-lhe, é realmente raro e não é pra qualquer um. Por isso é preciso delimitar os espaços afetivos, colocar cada um no seu lugar, assim podemos ver melhor, e perceber o quanto se é querido ou não. E isso se percebe quando a festa rola, e você não está. Uma sutil deslealdade de excluir, mas ao mesmo tempo uma libertação, para que os seus verdadeiros amigos te convidem para os novos brindes. E para que você possa abrir realmente as portas da sua casa, dos seus espaços sagrados, porque os verdadeiros amigos...
Voltam sempre...

TIM TIM!
Iza Junqueira



quinta-feira, 4 de março de 2010

Se queira


se queira muito

se queira bem

além de qualquer coisa mais além

é bom cair no fundo de si mesmo

e conhecer quem tece seus segredos

faz bem gostar do corpo que se tem

sentir que a sua cara lhe convém

seja você quem sempre se descobre

sonhe com você enquanto dorme



Ana Terra

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

...


O Psicanalista não é um orientador,
no sentido de conselheiro.
É aquele que possibilita que cada um daqueles que o consultam seja capaz de assumir o reconhecimento de seu próprio desejo
no tocante a tudo o que deseja, e aprenda a resolver por si só seus conflitos.
Dolto, 2007

domingo, 29 de novembro de 2009

Fernando Pessoa - Adiamento

Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã... Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã,
E assim será possível; mas hoje não...
Não, hoje nada; hoje não posso.
A persistência confusa da minha subjetividade objetiva,
O sono da minha vida real, intercalado,
O cansaço antecipado e infinito,
Um cansaço de mundos para apanhar um elétrico...
Esta espécie de alma...
Só depois de amanhã...
Hoje quero preparar-me,
Quero preparar-mne para pensar amanhã no dia seguinte...
Ele é que é decisivo.
Tenho já o plano traçado;
mas não, hoje não traço planos...
Amanhã é o dia dos planos.
Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo;
Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã...
Tenho vontade de chorar,
Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro...
Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo.

Só depois de amanhã...
Quando era criança o circo de domingo divertia-rne toda a semana.
Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância...
Depois de amanhã serei outro,
A minha vida triunfar-se-á,
Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático
Serão convocadas por um edital...
Mas por um edital de amanhã...
Hoje quero dormir, redigirei amanhã...
Por hoje, qual é o espetáculo que me repetiria a infância?
Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã,
Que depois de amanhã é que está bem o espetáculo...
Antes, não...
Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei.
Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser.
Só depois de amanhã...
Tenho sono como o frio de um cão vadio.
Tenho muito sono.
Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã...
Sim, talvez só depois de amanhã...
O porvir...Sim, o porvir...

Álvaro de Campos

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

AMOR E TEMPO

Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba. Atreve-se o tempo a colunas de mármore, quanto mais a corações de cera ! São as afeições como as vidas, que não há mais certo sinal de haverem de durar pouco, que terem durado muito. São como as linhas, que partem do centro para a circunferência, que quanto mais continuadas, tanto menos unidas. Por isso os antigos sabiamente pintaram o amor menino; porque não há amor tão robusto que chegue a ser velho. De todos os instrumentos com que o armou a natureza, o desarma o tempo. Afrouxa-lhe o arco, com que já não atira; embota-lhe as setas, com que já não fere; abre-lhe os olhos, com que vê o que não via; e faz-lhe crescer as asas, com que voa e foge. A razão natural de toda esta diferença é porque o tempo tira a novidade às coisas, descobre-lhe os defeitos, enfastia-lhe o gosto, e basta que sejam usadas para não serem as mesmas. Gasta-se o ferro com o uso, quanto mais o amor ?! O mesmo amar é causa de não amar e o ter amado muito, de amar menos.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Afetos encapsulados - Iza Junqueira

Esses dias, ouvi falar da peça: Máquina de abraçar, cuja narrativa percorre o universo autista, ainda tão incompreendido, tão difícil de penetrar, um dialeto tão confuso, um olhar distante, desprendido. O não - desejo de ser tocado, ser olhado, é um pouco o que o autista mostra de si.

Há dias venho pensando em colocar algum texto no blog sobre pessoas que sentem muita dificuldade em falar de si, de demonstrar qualquer tipo de afeto, seja ele qual for, ou mesmo desafetos. Sabe quando você cumprimenta uma pessoa com um aperto de mão e sente uma superficialidade no toque, não há uma firmeza no gesto, não há correspondência afetiva, é uma mão que não suporta o toque. Isso se estendendo ao olhar, porque além das mãos, do toque, o olhar inicia um discurso, ele te dá dicas de: para que olho eu estou olhando, que olhar é esse? Isso quando a pessoa permite esse contato. E assim o nosso corpo todo vai falando, vai ficando nu, mesmo com tantas barreiras, tantas defesas.

Essa leitura simbólica: facial, dos gestos, da sonoridade de cada pessoa, daquelas que conversam tão baixinho, para que não possam ser ouvidas, ou das que já querem ser ouvidas de qualquer jeito, tudo isso enriquece muito toda essa travessia nossa por essa vida. Estar atento ao nosso corpo, a nossa voz, aos nossos desejos, enfim, é um grande exercício e precioso também, mas que às vezes a gente faz “pouco caso”, não dá ouvido, àquilo que tanto quer falar. E fala, mesmo sem a gente perceber, e tem sempre alguém que vai olhar e vai ver.

Existe também uma dificuldade em receber um elogio, tem sempre um: “Que nada, são seus olhos”. Sim, são os seus olhos mesmo, mas são os meus é que não estão querendo ver. Pessoas que passaram por constrangimentos afetivos importantes, sentem muita dificuldade em corresponder a uma simples intenção de carinho, e sofrem muitas vezes com isso. E isso não tem nada a ver com ser muito falante e risonho não, tem pessoas mais quietas, que são extremamente generosas, que te olham de uma forma muito boa, que te conquistam pelo aperto de mão, por uma palavra que chega numa hora especial.

Essas pessoas que conseguiram entrar na esfera afetiva sem tantos conflitos, lidam melhor consigo, com o mundo e com o outro. Claro, nós estamos o tempo todo expostos, sujeitos a sentir medo, vontade de chorar, de ter alguém por perto, de se isolar, de não falar, ou querer falar demais, e é muito bom a gente deixar que os afetos brotem, que a gente possa revelá-los, mesmo que a foto não pareça tão boa assim, mas o ato de revelar, a si, já é uma grande descoberta.

Iza Junqueira

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Desiderium Desideravi (ou, o desejo de desejar-te)

As estradas que, por
ti, deixei, em não
andá-las, estão
percorridas,
os dias que não vivi,
por ti, em fragá-los,
estão dourados.

Benditas sejam as distâncias.
Delas, a escorrer, o caminho
propaga o levante do sol
escavado(s) em suas pontas
de (esfinge)...


(In p.42, DESIDERIUM DESIDERAVI. Poa.

Movimento, Maria Carpi)

domingo, 30 de agosto de 2009

Quantas vezes eu assassinei o amor?

O amor nunca morre de morte natural. Anaïs Nïn estava certa. Morre porque o matamos ou o deixamos morrer.Morre envenenado pela angústia. Morre enforcado pelo abraço. Morre esfaqueado pelas costas. Morre eletrocutado pela sinceridade. Morre atropelado pela grosseria. Morre sufocado pela desavença. Mortes patéticas, cruéis, sem obituário e missa de sétimo dia.Mortes sem sangramento. Lavadas. Com os ossos e as lembranças deslocados.O amor não morre de velhice, em paz com a cama e com a fortuna dos dedos. Morre com um beijo dado sem ênfase. Um dia morno. Uma indiferença. Uma conversa surda. Morre porque queremos que morra. Decidimos que ele está morto. Facilitamos seu estremecimento. O amor não poderia morrer, ele não tem fim. Nós que criamos a despedida por não suportar sua longevidade. Por invejar que ele seja maior do que a nossa vida. O fim do amor não será suicídio. O amor é sempre homicídio. A boca estará estranhamente carregada.Repassei os olhos pelos meus namoros e casamentos. Permiti que o amor morresse. Eu o vi indo para o mar de noite e não socorri. Eu vi que ele poderia escorregar dos andares da memória e não apressei o corrimão. Não avisei o amor no primeiro sinal de fraqueza. No primeiro acidente. Aceitei que desmoronasse, não levantei as ruínas sobre o passado. Fui orgulhoso e não me arrependi. Meu orgulho não salvou ninguém. O orgulho não salva, o orgulho coleciona mortos.No mínimo, merecia ser incriminado por omissão.Mas talvez eu tenha matado meus amores. Seja um serial killer. Perigoso, silencioso, como todos os amantes, com aparência inofensiva de balconista. Fiz da dor uma alegria quando não restava alegria.Mato; não confesso e repito os rituais. Escondo o corpo dela em meu próprio corpo. Durmo suando frio e disfarço que foi um pesadelo. Desfaço as pistas e suspeitas assim que termino o relacionamento. Queimo o que fui. E recomeço, com a certeza de que não houve testemunhas.Mato porque não tolero o contraponto. A divergência. Mato porque ela conheceu meu lado escuro e estou envergonhado. Mato e mudo de personalidade, ao invés de conviver com minhas personalidades inacabadas e falhas.Mato porque aguardava o elogio e recebia de volta a verdade.O amor é perigoso para quem não resolveu seus problemas. O amor delata, o amor incomoda, o amor ofende, fala as coisas mais extraordinárias sem recuar. O amor é a boca suja. O amor repetirá na cozinha o que foi contado em segredo no quarto. O amor vai abrir o assoalho, o porão proibido, fazer faxina em sua casa. Colocar fora o que precisava, reintegrar ao armário o que temia rever. O amor é sempre assassinado. Para confiarmos a nossa vida para outra pessoa, devemos saber o que fizemos antes com ela.
- Fabrício Carpinejar

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Citação do dia



“Se desejarem saber mais a respeito da feminilidade, indaguem da própria experiência de vida dos senhores (e senhoras), ou consultem os poetas, ou aguardem até que a ciência possa dar-lhes informações mais profundas e mais coerentes”.
Freud, S (1933)2

sábado, 22 de agosto de 2009

Poesia coreana

Espelho

Não há som dentro do espelho
Não deve haver nenhum outro mundo tão silencioso assim.
Dentro do espelho também tenho orelhas
Duas pobres orelhas que não entendem o que eu digo.
O eu dentro do espelho é canhoto
Um canhoto que não responde ao meu aperto de mão, nao conhece o aperto de mãos
Eu não consigo tocar o eu do espelho por causa do espelho. Mas se não fosse pelo espelho como eu teria ao menos conhecido o eu do espelho?
Eu no momento não tenho espelho
mas dentro do espelho há sempre o eu do espelho
Não sei muito bem mas deve estar absorto em algum trabalho canhoto
O eu do espelho é bem o oposto de mim
mas também separece comigo
Ressinto- me mesmo de não poder me preocuparem examinar o eu do espelho
Yi Sang

Obrigada, Fátima Milnitzky, por essa descoberta...

um poeta inquietante!

Yi Sang
(14 de setembro, 1910 - 17 de abril, 1937) é considerado um dos escritores mais inovadores da moderna literatura coreana. Crossing and blurring the boundaries between poetry, fiction and essay, his experiments in literary form and language, as well the psychological complexity of his inquiry into passion, eroticism and the indeterminate nature of self were unprecedented in Korean literary practices of his time. Passagem e esbatendo as fronteiras entre poesia, ficção e ensaio, suas experiências em forma literária e língua, bem como a complexidade psicológica da sua investigação sobre a paixão, o erotismo ea natureza indeterminada do self foram sem precedentes em coreano práticas literárias do seu tempo.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

AMORTE

Foto romeo and juliet - by: Annie leibovitz

Depois de ler o texto de Roberto Mello, e vendo essa bela foto tirada pela Annie Leibovitz, eu fiquei pensando se resistir ao amor, não é ao mesmo tempo, uma fuga da morte, não somente da morte física, mas também de todos os nossos afetos e desafetos, dos amores desaparecidos e que nunca mais voltarão. Lembrei de uma música do Lulu Santos que diz assim: “Quando um certo alguém, desperta um sentimento, é melhor não resistir, e se entregar”. E resistir ao amor é causa de angústia, perder o encantamento pelas coisas mais simples da vida, como olhar um céu bem estrelado, trabalhar o dia todo com tesão, e chegar em casa da mesma forma e ver quem você ama, abrir a porta pra você, e te puxar para dentro. As pessoas perdem tempo demais se defendendo das suas fragilidades, como se a cura para a dor do amor, fosse endurecer, fechar a porta pro novo entrar. E no texto que se segue, o psicanalista Roberto Mello, cita um neologismo: AMORTE, constituído de amor e morte - não há um sem o outro.
Então o que nos resta diante dessa legitimidade? Bem, seria interessante que cada um pudesse pensar sobre isso...Fica o meu convite...

A MORTE
Por Roberto Mello
- A morte não há - disse um psicanalista, há tempos, no Rio de Janeiro, para uma platéia atônita durante um congresso. Efeito imediato: uma velhinha desmaiou. Foram ver, acudiram, e era uma psicanalista. Burburinho. Quem seria? Qual o nome? Idade? Um copo d'água. Levaram a pobre da velhinha para fora da sala, deitaram-na num sofá. Não, não era um divã. Abanaram, abanaram, trataram com carinho, e ela aos poucos se recuperou. Poder da palavra. Fiquei pensando, não era para subestimar. Poderia ser comigo, com qualquer um. Os gregos antigos sabiam que a palavra cura e mata. Os romanos sabiam que nas assembléias públicas, onde o discurso corria solto, havia sempre aqueles que tinham ataques de epilepsia, até por isso chamada de mal comicial. César era um deles.

Que se diga fica atrás do que se diz naquilo que se ouve, afirmava Lacan, no seu texto O aturdito, o dito que nos deixa aturdidos, a exigir dos analistas o talento da decifração. Posso dizer que você é uma mulher, mas isso não quer dizer que você verdadeiramente o seja. Perder-se no dilema do ser ou não ser é deixar de viver. Trocando o ser pelo haver, desde Freud, os psicanalistas sabem que a morte não há. Quer dizer: ninguém faz a experiência da própria morte. Não há uma entidade, A morte. Enigma. Para nós, a morte é sempre dos outros. O que não impede que num belo dia desapareçamos. Perecimento. Estive aqui, e não estou mais. Sumirei, mas não de todo. Há sempre algum resto. Nem que seja por matéria de fé. Lacan também dizia que a morte era uma pura questão de fé, e que, se não fosse assim, se não acreditássemos que um dia vamos morrer, o peso da existência arrastando-se pela eternidade seria absolutamente insuportável. Ninguém agüentaria um gozo eterno. Mas há os que crêem acreditar nisso, e morrem em vida, como os obsessivos, que não sabem se estão vivos ou mortos, se amam ou odeiam, paralisados pela dúvida improdutiva, alienados na espera, a espera da morte, geralmente de uma figura de autoridade, pai, patrão, mestre, para que então se sintam autorizados a viver. Na clínica, é dos obsessivos o questionamento radical da tragicidade da existência. Hamlet adia o crime por amor e nem sabe se ama. Romeu e Julieta, por amor, antecipam a morte. Sexo e morte estão interligados, nos diz a psicanálise. Dois adolescentes se encontram e se convidam para o coito: vamos brincar de morrer? Daí a legitimidade do neologismo amorte. Em 1998, em Salvador, na Bahia, psicanalistas trataram desse par ordenado, constituído de amor e morte - não há um sem o outro - num famoso congresso.

Em outro congresso, no Rio, discutiu-se sobre a possibilidade de a morte ser uma variedade de sexo. Por mais chocante, escandalosa que seja a aproximação, constatou-se que há um gozo em falar da morte. Se falar de amor é já fazer amor, como dizia Lacan, falar da morte deixa escapar um gozo inesperado, insuspeitado, mas que pode ser captado pela observação de uma crise maníaca que às vezes toma conta dos velórios. A literatura brasileira é rica de exemplos, entre eles algumas narrativas de Jorge Amado. É também da Bahia boa terra que nos vem uma estranha estatística de alta incidência de casos de linchamento, em que grupos se reúnem para fazer justiça com as próprias mãos, rompendo o pacto civilizatório - não matarás - e deixando-se fotografar com um semblante de gozo evidente. A conclusão óbvia é a de que existe um gozo de matar. Somos uns boçais, dizia Caetano numa canção que fustigou os podres poderes que não respeitam nem sinal de trânsito.Aliás, não nos damos conta de que a história de Édipo começou com um acidente de trânsito: Laio, pai de Édipo, fugia de um outro pai, que o perseguia porque não lhe dera autorização para que transasse com seu filho. Laio desrespeitou a lei que regulava a pederastia, velho costume grego. Na pressa, ao passar por uma encruzilhada, seu carro bateu no de Édipo. Discutiram, e Édipo, sem saber quem era seu desafeto, o matou. Fugindo do pai de um menino, Laio morreu nas mãos de seu menino, diz uma das muitas versões do mito tebano, mas nem por isso tomamos cuidado com as discussões no trânsito. Repetição sem fim?

Tesão de matar, tesão de morrer, amorte de mil faces se perpetua ao longo das eras. Sabedora disso, a Igreja católica, com sua sabedoria, instituiu a cerimônia da missa, em que, simbolicamente, o corpo e o sangue de Cristo são devorados. Aplaca-se, assim, uma fome insaciável. Por que se chocar com o mito freudiano do parricídio, o assassinato do pai primordial, do pai da horda, que monopolizava toda forma de gozo, todas as mulheres, crime que está na origem da lei e da civilização? De pai morto a pai simbólico, fundamento civilizatório. Civilização a exigir um novo pacto, um acordo para diminuir o ritmo da destruição da vida, pelo menos para diminuir o ritmo da morte da biodiversidade. Morte gulosa, voracíssima, que nos rouba a água potável, o ar limpo, a chuva criadeira, a terra generosa, e nos torna inimigos do fogo: cientistas apavorados nos advertem para as mudanças climáticas e o aumento crescente da temperatura. Aliança entre ecologia e religião, como propõem alguns cientistas. Será que desta vez vamos? Teocracia à vista. Estaremos advertidos pelo ceticismo do crítico literário Harold Bloom, que, no seu livro Jesus e Javé - Os nomes divinos, não consegue compreender, na sua condição de judeu, o fascínio de um Deus que comete suicídio? O fantasma da morte é imprescindível?

A velhinha que desmaiou - perdeu os sentidos - padeceu de uma frase que abalou seu sistema de crença: suas significações habituais entraram momentaneamente em suspensão, abriu-se uma ausência de sentido. Podemos especular se ela teria sido formada na escola que despreza a pulsão de morte anunciada por Freud em 1920, como uma resposta teórica - e prática - para os insucessos da clínica: por que os sujeitos querem e não querem tratar-se, ao mesmo tempo? O que faz com que subestimem o papel da palavra, recusando a saída possível pela simbolização, dado que o homem não pode não simbolizar? Os budistas nos falam da dor de existir. Que gozo é esse? Remédios são paliativos, ainda que bem-vindos.

Ainda que pretenda eximir-se da responsabilidade do seu sofrimento, o sujeito contemporâneo pode continuar a não simbolizar a morte, delegando a um outro, ao remédio, as decisões cruciais de sua vida? Haveria uma ética para a subjetivação da morte?

Os analistas estariam à altura dessa ética? Não sei de muitos exemplos. Me lembro de um. O ano de 2005 me foi particularmente cruel: desapareceram minha mãe e meu analista. Horus Vital Brazil, que esteve conosco em Goiânia, para algumas jornadas de trabalho, mostrou, pouco antes de morrer, uma serenidade comparável a de Sócrates. Viveu com alegria seus últimos momentos, escrevendo, dando cursos, consolando amigos, parentes, analisantes, aceitando com resignação - porque bem vivera e bem dissera a vida - o seu fim.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

O pulso ainda pulsa,,,

Vou postar algo que Joselita Rodovalho escreveu.
Joselita é psicanalista, membro da Escola Lacaniana de Psicanálise de Brasília. Uma pessoa que gosto muito, nos ajudou muito aqui em Goiânia, com os nossos encontros, publicou recentemento o livro: O Atual Sempre - Um ensaio psicanalítico sobre o inabitável vazio da vida cotidiana.

"Felizmente o desejo humano existe única e exclusivamente para ser insatisfeito, senão a vida não pulsa. É deste pulsar que o sujeito da arte vem com suas ferramentas amenizar os apelos de um desejo insatisfeito, isto vale tanto para o sujeito que fabrica a trama de seus desejos pela arte, quanto para os sujeitos que consomem, cada qual a seu modo, esse produto. Portanto, o veio pulsional deve ser permanentemente restituído através dos veículos da linguagem, falada, escrita, representada etc. para que o sujeito possa dizer e redizer seu desejo insatisfeito. É disso que emana o poder de nossas enunciações privadas e obstruídas, mas o que ocorre no subsolo do desejo são as potentes cordilheiras incessantes da pulsão. Para onde dirigi-las e derramá-las, é uma questão de liberdade de escolha do sujeito". Joselita Rodovalho

Vargas Llosa quem diz:
"os homens não estão contentes com o seu destino, e quase todos - ricos ou pobres, geniais ou medíocres, célebres ou obscuros - gostariam de ter uma vida diferente da que vivem. Para aplacar - trapaceiramente - esse apetite surgiu a ficção. Ela é escrita e lida para que os seres humanos tenham as vidas que não se resignam a não ter. No embrião de todo romance ferve um inconformismo, pulsa um desejo insatisfeito."

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Um sonho que nunca morreu...


O sonho encheu a noite
Extravasou pro meu dia
Encheu minha vida
E é dele que eu vou viver
Porque sonho não morre.
Adélia Prado
Foto da Cidade de Goias - que amo tanto

SOBRE O TEMPO

Um belo texto...
RUBIA DELORENZO (1)

Vai chegar uma nova criança. Tudo gira, em vertigem.Desarruma-se algo. Perde-se o equilíbrio do hábito. A filha agora é mãe, a mãe é também avó, a caçula vira tia.Avós de sangue exultam. Cuidado! É preciso viver da fraternidade, o laço solidário capaz de abrir a roda para que caibam todos. E estabelecer o sentido estendido da partilha: celebrar com outros os frutos do tempo e a estação da vida e respeitar o que é legítimo da justa divisão nas diferenças.Esse é o primeiro tempo da novidade. Depois, é preciso admitir: temos muito trabalho com as sombras, com o que se deu no invisível.Haverá alegria para a filha mulher em seu novo estado de mãe? Guardará ela, com prazer, na memória de seu corpo o fluxo perene dessa ligação? De mãe para filha, perduraram as alianças urdidas nas trocas femininas? Na feitura da colcha de retalhos, com suas dobras tão simétricas e junções irregulares, com seus centros coloridos e com bordas mais tristonhas, os detalhes extravagantes, as dessemelhanças, como conviveram? O gosto jovem e o mais antigo, a sábia lição dos mais velhos e a vontade de inventar? Como tratar o relicário?Mundo novo admirável, estarei dentro, estarei fora? De repente o tempo dilatou-se. De novo, vi a vitalidade do século, a força combativa das gerações, a pulsação apaixonada, a família, a vida, o amor, em desordem. A idéia do tempo em sua dimensão desdobrada se impôs: tempo pródigo, doador, no avesso do tempo odiado, ladrão inclemente, usurpador. Na dádiva inesperada do tempo pressinto esse retorno ao íntimo, ao mais secreto: a queda no túnel de Alice, o tremor, estar caótica, pulsante, desordenada. Paul Klee, certa vez, diante da superfície branca da tela, inibido, ele próprio atingido pelo branco, confessa:"No entanto, permaneço calmo, porque me foi permitido, inicialmente, ser eu mesmo um caos. Essa é a mão materna"(2).A que foi mãe e que foi "trêmula e tímida" pode provar num movimento destemido, a presença do caos agora renovado pela aventura que é, novamente, o estranhamento da filha e o desamparo da criança.Persiste, nesta doação do tempo, a impressão de que se existe calma que apazigua o caos, é porque há algo que permanece.
Abril - 2009

(1) Rubia Maria Tavares Delorenzo é psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae.(2) Citação feita por J.-B. Pontalis, em Perder de Vista, no último artigo, que dá título ao livro.

Imagem: Paul Klee, mother and Chid, 1938.
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Desconstruções

Quando a gente conhece uma pessoa, construímos uma imagem dela. Esta imagem tem a ver com o que ela é de verdade, tem a ver com as nossas expectativas e tem muito a ver com o que ela "vende" de si mesma. É pelo resultado disso tudo que nos apaixonamos. Se esta pessoa for bem parecida com a imagem que projetou em nós, desfazer-se deste amor, mais tarde, não será tão penoso. Restará a saudade, talvez uma pequena mágoa, mas nada que resista por muito tempo. No final, sobreviverão as boas lembranças. Mas se esta pessoa "inventou" um personagem e você caiu na arapuca, aí, somado à dor da separação, virá um processo mais lento e sofrido: a de desconstrução daquela pessoa que você achou que era real.
Desconstruindo Flávia, desconstruindo Gilson, desconstruindo Marcelo. Milhares de pessoas estão vivendo seus dias aparentemente numa boa, mas por dentro estão desconstruindo ilusões, tudo porque se apaixonaram por uma fraude, não por alguém autêntico. Ok, é natural que, numa aproximação, a gente "venda" mais nossas qualidades que defeitos. Ninguém vai iniciar uma história dizendo: muito prazer, eu sou arrogante, preguiçoso e cleptomaníaco. Nada disso, é a hora de fazer charme. Mas isso é no começo. Uma vez o romance engatado, aí as defesas são postas de lado e a gente mostra quem realmente é, nossas gracinhas e nossas imperfeições. Isso se formos honestos. Os desonestos do amor são aqueles que fabricam idéias e atitudes, até que um dia cansam da brincadeira, deixam cair a máscara e o outro fica ali, atônito.
Quem se apaixonou por um falsário, tem que desconstruí-lo para se desapaixonar. É um sufoco. Exige que você reconheça que foi seduzido por uma fantasia, que você é capaz de se deixar confundir, que o seu desejo de amar é mais forte do que sua astúcia. Significa encarar que alguém por quem você dedicou um sentimento nobre e verdadeiro não chegou a existir, tudo não passou de uma representação – e olha, talvez até não tenha sido por mal, pode ser que esta pessoa nem conheça a si mesma, por isso ela se inventa.
A gente resiste muito a aceitar que alguém que amamos não é, e nem nunca foi, especial. Que sorte quando a gente sabe com quem está lidando: mesmo que venha a desamá-lo um dia, tudo o que foi construído se manterá de pé
Martha Medeiros

sábado, 8 de agosto de 2009

Sob o Sol

Tão dentro e perto. Um rastro de mundo pousa nas pontas dos dedos. Tão fugidio e certo escrever marcando territórios internos onde ficamos e ao mesmo tempo nos despedimos deles passos fundos sob o sol
(Um impulso poético que às vezes me dói)

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Duas frases para hoje...

Do amor.

´´No amor, não existe nada senão um desejo frenético do que foge de nós.´´ - MONTAIGNE

´´ Não é costume se amar o que se tem. ´´ - ANATOLE FRANCE -

Na impossibilidade de ter, não busca: acha-te ... é a ´´sozinhez´´ meus caros, nosso destino gozozo de encontrar...

sábado, 1 de agosto de 2009

Psicanálise funciona, diz estudo médico (Folha de S. Paulo)

Como se a gente já não soubesse da Sua eficácia, mas é sempre bom um destaque mais amplo...

Pesquisas recentes em psicanálise


Folha de São Paulo -05/10/2008 - A psicanálise intensiva, a "cura pela fala" enraizada nas idéias de Freud, pode estar sob ameaça numa era de tratamentos farmacológicos e pressão por eficácia financeira da assistência médica. Mas cientistas estão relatando agora que ela pode ser eficiente contra alguns problemas mentais crônicos, incluindo a ansiedade e a personalidade limítrofe.
Em uma revisão de 23 estudos sobre esse tipo de tratamento envolvendo 1.053 pacientes, os pesquisadores concluíram que essa forma de terapia, mais intensiva, aliviou sintomas dos problemas com muito mais eficácia do que algumas terapias de curto prazo.
Em estudo na revista "Jama", da Associação Médica Americana, os autores emitem um alerta para que mais terapias "psicodinâmicas", como as definem, sejam testadas antes que acabem descartadas como meras curiosidades históricas.
A revisão no "Jama" foi a primeira do tipo para psicanálise a aparecer numa revista técnica médica de alto impacto, e os estudos nos quais o novo artigo se baseia não são muito conhecidos dos médicos em geral.
Por muitos anos, nos EUA, esse campo tem resistido ao escrutínio científico, sob alegação de que o processo de tratamento é altamente individualizado e, portanto, não se presta a esse tipo de estudo. O tratamento se baseia na idéia de Freud segundo a qual sintomas estão enraizados em conflitos psicológicos subjacentes, que podem ser descobertos por meio do relacionamento próximo paciente-terapeuta.

Atenção intensa
Especialistas alertam que a evidência citada na nova pesquisa ainda é muito escassa para uma alegação clara de que a terapia psicanalítica é superior a outros tipos de tratamento, como a terapia cognitiva comportamental, de curto prazo.
"Mas essa revisão certamente parece contradizer a noção de que terapias cognitivas ou outras de curto prazo são melhores que quaisquer outras", diz Bruce Wampold, psicólogo da Universidade de Wisconsin. "Quando bem feita, a terapia psicodinâmica parece ser tão eficaz quanto qualquer outra."
Os autores da revisão -Falk Leichsenring, da Universidade de Giessen, e Sven Rabung do Centro Médico Universitário de Hamburg-Eppendorf, ambos na Alemanha- consideraram só estudos nos quais a terapia analisada tinha pelo menos duas sessões por semana e duração maior que um ano.
Os cientistas examinaram os estudos que seguiram pacientes com diversos problemas mentais, dentre os quais depressão severa, anorexia nervosa e transtorno da personalidade limítrofe -caracterizado por medo de abandono e surtos de desespero e carência.
A terapia psicodinâmica "mostrou efeitos de tratamento significativos, grandes e estáveis, que até aumentavam significativamente entre o fim do tratamento e a avaliação", disse Leichsenring.
A revisão, contudo, não encontrou correlação entre a melhora dos pacientes e a duração do tratamento. Mas eles de fato melhoraram, e os psiquiatras afirmaram que ficou claro que pacientes com problemas emocionais graves e crônicos se beneficiavam da atenção próxima, freqüente e perseverante dos psicanalistas.
"Se definirmos a personalidade limítrofe de modo amplo, como uma incapacidade de controlar emoções, ela se aplica a muitas pessoas que aparecem nas clínicas e são diagnosticadas com depressão, bipolaridade pediátrica ou vício em drogas", diz Andrew Gerber, psiquiatra da Universidade Columbia, Para alguns pacientes, diz, "esse estudo sugere que a terapia de longo prazo é necessária para a melhora durar".

Freud no "Jama"
Alguns psicanalistas ficaram mais surpresos com a publicação que veiculou o estudo do que com o resultado do trabalho. Artigos de revisão no "Jama" e em outras revistas médicas costumam analisar centenas de estudos, enquanto a revisão de agora tinha só 23. O trabalho de Leichsenring é encorajador, dizem, mas é também sinal de que muitos outros estudos precisam ser feitos.
Barbara Milrod, psiquiatra do Weill Cornell Medical College, que também adota terapia psicodinâmica, afirma que mais pesquisas são cruciais para a sobrevivência dessa linha como um tratamento válido.
"Vamos cair na real", diz. "Os grandes centros médicos estão encerrando os programas de treinamento psicodinâmicos porque não há uma base de evidências adequada."

Autor: Desconhecido
Fonte: Jornal Folha de SP

JAMA: The Journal Of the American Medical Association.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Minhas Digressões sobre o Tempo...


TEMPERANÇA

A espera, tem se tornado parte contínua na minha vida.

Um ritual sagrado.

Existe espera no Tempo?

ou tudo que imaginamos ser espera

é mera viagem ...

Tempo!

Tão grandioso, tão pequeno , tão (só)

Tempo é gente? fantasma? solidão?

Espera-se do Tempo: o sol, a chuva, as flores, o amor, o filho, o medo, a morte, além...

Personificamos o Tempo quando perguntamos: como está o Tempo hoje?

Mas não há fala no Tempo.

Tempo é aquilo que nos falta responder

Tempo é furo

é divã suspenso no ar.

Iza junqueira

gyn 06/01/2001.


segunda-feira, 27 de julho de 2009

Diálogos de Amor


Trecho do livro: Diálogos de amor de Leão Hebreu

Sofia: Como podes dizer que o verdadeiro amor nasce da razão? Pois sempre ouvi dizer que o amor perfeito não pode ser governando nem limitado por nenhuma razão, e por isso lhe chamam “desenfreado”, porque não se deixa domar pelo freio da razão nem governar por ela.

Fílon: É verdade o que ouviste, mas se eu disse que tal amor nasce da razão não te disse que se limita e guia por esta. Digo-te, pelo contrário, depois de engendrado pela razão cognoscitiva, logo após o nascimento já se não deixa mandar nem governar pela razão da qual foi gerado, mas recalcitra contra a mãe e torna-se, como disseste, tão desenfreado que redunda em prejuízo e dano do amante, porque aquele que tem sincero amor a si próprio se desama.

Grata!

Sobre o autor:Filho de Isaac Abravanel, nasceu em Lisboa, em 1465, tendo vivido também em Espanha e em Itália. Supõe-se que terá morrido em 1534.
Bibliografia
Giuseppe Saitta «La filosofia di Leone Hebreo» in Filosofia Italiana e Humanismo, Veneza, 1928;José Narciso Rodrigues, «A filosofia de Leão Hebreu. O amor e a beleza» in Revista Portuguesa de Filosofia, t. XV, fasc. 4, Braga, 1959, pp. 349-386;José Barata Moura «Amizade humana e amor divino em Leão Hebreu», in Didaskalia, vol. II, fasc. I, Lisboa, 1972, pp. 155-157;Id., «Leão Hebreu e o sentido do amor universal» in Didaskalia,, vol. II, fasc. II, Lisboa, 1972, pp. 375-404; Joaquim de Carvalho, Leão Hebreu Filósofo, in Obras Completas de Joaquim de Carvalho, vol. I, Lisboa, 1978;J. Pinharanda Gomes, A filosofia hebraico-portuguesa, Porto, 1981.

domingo, 26 de julho de 2009

Um Hai Kai para Freud

É DEVASSA ESSA MULHER
QUE SEUS SONHOS EXPÕE
QUANDO ABRE A VIDRAÇA?

Rogério Viana

Hoje assisti ao programa, De lá pra cá, apresentado pelo jornalista Ancelmo Gois, em homenagem a Paulo Leminski. Contando sua trajetória, um jovem com 18 anos, que já nasceu concreto, como ele mesmo dizia, se referindo aos já consolidados poetas concretos, citando Augusto de Campos, Haroldo de Campos e outros...Desde a adolescência eu adorava o Leminski e em especial uma de suas melhores expressões: o Hai Kai.

Quem desejar conhecer mais sobre o Hai Kai, acesse:

http://www.seabra.com/haikai/

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Sobre a Transitoriedade - Iza Junqueira

Van Gogh - noite Um dos textos que mais gosto em Freud, é quando ele fala sobre a transitoriedade (vol. XIV - 1914 -1916). Além de ser um texto muito bem escrito, ele nos sensibiliza ao ponto de revermos as nossas travessias,e que, a duração das coisas em nós, tem o momento de chegar e de ir. Seja alguém, um presente, uma flor, as estações do ano...e por aí vai. " Uma flor que dura apenas uma noite nem por isso nos parece menos bela. Tampouco posso compreender melhor por que a beleza e a perfeição de uma obra de arte de uma realização intelectual deveriam perder seu valor devido à sua limitação temporal". (pg 346)
Rodrigo, um caro amigo, postou um comentário sobre
o que eu escrevi sobre "o luto por pessoas que não morreram", e ele fala sobre o transitório, e eu tenho vivido muito isso, aliás a gente vive todos os segundos isso, e essas nossas conversas sobre todas as coisas que vivemos e que se foram, mas que ficaram em nós, estão me fazendo muito bem...As coisas ficam mais leves quando a gente percebe o significado e aceita, na medida do possível, o que vem e o que vai...
Vou deixar um link aqui para quem quiser ler um pouco mais sobre Sobre a
transitoriedade: o objeto e o tempo. Por Simone Souto.
Eu gostei muito...
http://www.ebp.org.br/biblioteca/pdf_biblioteca/Simone_Souto_Sobre_a_transitoriedade_o_objeto_e_o_tempo.pdf

terça-feira, 21 de julho de 2009

O luto por pessoas que não morreram


"Toda dor pode ser suportada se sobre ela puder ser contada uma história". Hannah Arendt

A primeira vez que assisti "Meu primeiro amor", eu chorei. E as outras 10 vezes, também. Chorei de saudade de muitas pessoas, chorei pelo amor que se foi, enfim, é um filme entre duas crianças que se enamoram, e de repente o menininho morre com uma picada de abelha, e ela então, vive seu primeiro grande luto. Mas tem gente que desaparece em vida, numa ruptura brusca, sem tempo pra gente velar, olhar mais uma vez, mandar algumas flores, recitar um poema, colocar uma música, se despedir, dar o último abraço, mandar ir pro inferno! fazer todos os rituais que nos cabe. Enterrar. E o enterro pode demorar muito mais tempo para acontecer do que a gente possa imaginar. As pessoas costumam dizer, que no máximo dois anos, podemos nos curar de uma paixão, como se os nossos desejos obedecessem ao Tempo. As vezes quatro anos sem a pessoa amada, não pode ser mensurado com o passar dos dias, mas apenas pelo sentimento da saudade, da ausência. Tem pessoas que conseguem resolver esses desaparecimentos com mais facilidade, outras, ficam mais tempo nesse luto em vida, como costumo dizer. Mas um dia passa, sem a gente menos esperar, e se dar conta. E nós continuamos essa travessia, desejando, querendo ser amada, mesmo que tenhamos mais uma vez, passarmos pelo doloroso luto, em vida.


domingo, 28 de junho de 2009

Mulher é linguagem


Toda mulher é uma viagem

ao desconhecido. Igual poesia

avessa ao verso e à trucagem,

mulher é iniciação do dia,

promessa, surpresa, miragem.

De nada adiantam mapas, guias,

cenas ensaiadas ou pilhagens.

Controverso ser, mulher é via

de mão única, abismo, moagem.

É também risco máximo, magia,

caminho íngreme na paisagem.

Simplificando: mulher é linguagem,

palavra nova, imagem que anistia

o ser, o vir-a-ser e outras bobagens.


Rubens Jardim

.http://www.cronopios.com.br/site/poesia.asp?id=3912asp?id=3912



quinta-feira, 18 de junho de 2009

Sinais Abertos - por Iza Junqueira


Em 1969 Paulinho da Viola lança uma música chamada: Sinal Fechado. É um diálogo contido, entre duas pessoas, que não se vêem há algum tempo, e que num momento se encontram na rua, dentro dos seus carros, ou até mesmo a pé, esperando o sinal abrir, e ali naquele pequeno espaço de tempo, foi possível um encontro. Poderia ter sido um encontro entre dois homens, duas mulheres, um homem e uma mulher, ex marido e ex mulher, a letra é totalmente aberta para a imaginação, e você pode se colocar nela, sem dúvida, mesmo depois de tantos anos. E esse ano em que foi feita essa canção, o Brasil estava em plena ditadura militar, onde a linguagem era completamente vigiada, reprimida e censurada, e o autor adapta o discurso, para que ele fosse emblema de uma época em que se tinha tanto a dizer e não se podia.

“Mudaram as estações, nada mudou”. E será que mudaram muitas coisas de lá para cá, em relação a possibilidade dos encontros reais, do discurso entre pessoas que se desejam, que se gostam? É comum se ouvir: “Nossa, estou correndo demais, estou sem tempo para nada”. A menos que estejam fazendo cooper, ou se desculpando de não querer o encontro, as pessoas estão correndo de quem e para onde? É um tempo que está sendo marcado cada vez mais pela individualização, é um outro tipo de ditadura subjetiva, de recolhimento. A internet, como um outro lugar possível de relacionamento, é também um espaço de ilusões, em que se tem a sensação de domínio, controle e de que tudo é possível a partir das relações estabelecidas ali. Dentro do meu quarto eu “ posso” conhecer o mundo. E assim o mundo se distancia cada vez mais. E o tempo, esse que nós gostamos tanto de culpar, é o grande vilão daquilo que poderia ser prazeroso: os encontros possíveis, o olhar, o diálogo. Um sinal aberto.

Vídeo da música - sinal fechado

http://www.youtube.com/watch?v=IEUPH1A7YkM

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